Os criadores geralmente avisam: “não deixe o cão sozinho com as crianças, por mais amigável que este possa ser”. Os veterinários aconselham: “nunca deixe o seu cão sozinho com os seus filhos”. Os treinadores explicam: “todos os cães podem morder por isso supervisione sempre as brincadeiras entre cães e crianças”. Todos sabemos os cuidados a ter... Mas então porque é que há ainda tantos casos de crianças a serem mordidas por cães?

Os ataques de cães a crianças não se devem à neglicência dos pais que deixam o cão a tomar conta das crianças enquanto tratam das lides domésticas ou vêem o jogo da bola. De facto, quase todas as dentadas acontecem quando os pais estão a poucos metros das crianças a vigiar a interacção entre ambos. O problema está no facto da maioria dos adultos, apesar do controlo aparente da situação, não se aperceberem dos sinais de stress e desconforto que os cães demonstram.

Regra geral, os pais não receberam qualquer tipo de educação no que toca a avaliar a linguagem corporal dos cães e nem o que constitui uma situação de emergência entre um cão e uma criança. Além disso, a maioria dos pais está tão encantada com a felicidade dos seus filhos que não presta atenção aos sinais de stress exibidos pelo animal ou nem sequer os sabem reconhecer. A solução passa por aprender a reconhecer os sinais que o seu cão lhe dá!

Aqui fica uma pequena lista que o irá ajudar no momento de supervisão:

• O seu cão deve exibir uma linguagem corporal relaxada. Uma boa linguagem corporal é solta, livre e relaxada. A postura do seu cão deve ter curvas quando está perto de crianças, ao invés de estar tenso e hirto. Se o corpo do seu cão começar a ficar tenso ou se ele de repente deixar de arfar e e suster a sua respiração, deve intervir e separar ambos. Isto são sinais óbvios que indicam que o seu cão não está confortável.

• Fique atento a comportamentos menos apropriados da parte das crianças. Intervenha caso o seu filho queira saltar para cima do cão. Não deixe que ninguém puxe as orelhas ou a cauda do cão, levante as suas bochechas ou dê lhe empurrões/cotoveladas. Não espere que o seu cão tenha uma paciência infindável só porque leu que os cães dessa raça são pacientes – lembre-se que cada exemplar é único e que a paciência tem limites. Não espere para ver o que vai acontecer, intervenha antes que seja tarde demais!

• Observe os sinais de stress no animal. Se observar alguns dos comportamentos abaixo, é melhor acabar logo com a brincadeira entre a criança e o cão:

1. O seu cão boceja fora do contexto (ex. acordar).
2. Os olhos do seu cão ficam mais salientes estando evidente a parte branca dos olhos.
3. O seu cão lambe-se fora do contexto (comer).

• Fique atento se o animal se tentar esquivar. Se o seu cão fugir da criança, proíba-a de ir atrás dele. Um cão que escolha afastar-se da situação, está a fazer a opção correcta de evitar o confronto. “Não quero ser chateado! Vou-me embora!” isto é o que o seu cão está a pensar. No entanto, quando você não suporta a decisão do seu cão e permite que a criança o persiga, é provável que o seu cão passe ao plano B: “Já que não posso fugir, vou rosnar e mordê-la para a afastar”. Não faça com que o seu cão seja obrigado a tomar esta atitude drástica. 

• Fique atento a rosnadelas. Muitos donos dizem que o seu cão rosna sempre que as crianças interagem com ele, nunca pensando que o cão alguma vez as irá morder – não espere por esse dia! Rosnar é um dos primeiros sinais de agressão. Se rosnar não resultar, o próximo comportamento do seu cão poderá ser abocanhar ou morder. Se o seu cão rosnar, ele está-lhe a dar uma pista para acabar com as brincadeiras.

Adaptado de: Robink Bennett, treinadora de cães.