Registo
Foto Mulher atacada por cão fica sem braços

Nos EUA, Anne Murray de 65 anos de idade foi brutalmente atacada pela cadela da sua família, Tux de dois anos de idade. Anne perdeu o braço esquerdo por completo e metade do seu braço direito. Quando a polícia chegou ao local, encontraram-na debaixo do carro, onde se escondia de Tux. Acreditando que o animal seria uma ameaça, a polícia automaticamente alvejou-o. Tux teve morte imediata e foi levada para autópsia para verificar se estava infectada com raiva.

A cadela pertencia aos filhos de 26 anos de Anne e embora esta nunca tenha demonstrado uma clara agressividade para outras pessoas, a brigada de controlo animal já tinha sido contactada duas vezes pelos vizinhos que alertavam para o perigo do cão. Para além disso, um dos seus filhos tem cadastro na polícia por furto.

Em casos como estes, que não são exclusivamente histórias americanas, a opinião do público recai sempre para os dois extremos do espectro. Uns defendem que provavelmente houve algum tipo de provocação e o cão poderia ter sido salvo. Outros defendem que estes ataques acontecem de um momento para o outro e estes cães, que se assemelham a pitbulls, devem ser eutanasiados pois são perigosos. Mas afinal de contas quem é que está certo?

A treinadora e comportamentalista Sophia Yin, comentou o caso equacionando os diversos cenários que poderão ter provocado este ataque.

1. O cão podia ter sido treinado para tal

A comportamentalista explica que se por um lado os ataques não são intencionalmente provocados, em alguns casos os cães são intencionalmente treinados. E quando cães de grande porte têm donos com tendências criminais, a probabilidade de serem treinados para tal é maior.

2. O cão podia ser medroso e algum comportamento humano pode ter despoletado a agressividade do animal

Uma das causas mais frequentes de agressão deve-se ao facto dos humanos despoletarem nos animais certos comportamentos que levam à agressão. Por exemplo, a causa mais comum de agressão a pessoas não familiares é o medo, especialmente quando pessoas estranhas abordam o animal de uma maneira mais efusiva.

As pessoas tendem a não reconhecer os sinais de medo do animal e olham demasiado para ele, baixam-se para o cumprimentar e não descansam até lhe conseguirem dar uma festa. Apesar de terem as melhores das intenções, para um cão medroso, este comportamento é considerado uma ameaça.

Durante meses o cão pode conseguir cooperar afastando-se ou paralisando, mas pode ser uma questão de tempo até que o cão perceba que o mais eficiente para manter uma pessoa estranha longe é mordendo-lhe. Para os humanos que não sabem reconhecer os sinais de medo ou ansiedade, pode parecer que o ataque foi sem razão aparente.

3. Determinado tipo de comportamento poderá ter sido acidentalmente reforçado

Há actividades que encorajam a impulsividade e excitação em demasia, que fazem com que o animal haja só por excitação ao invés de exercitar o autocontrolo. Por exemplo, os cachorros adoram morder objectos e se, por ventura, forem recompensados quando estão a roer/mastigar as roupas/braços ou a saltar para cima do dono, então poder-se-á estar a criar um problema bastante sério que será perceptível quando o cão crescer. Recompensar estas “brincadeiras” bracejando ou fazendo sons de surpresa ou agonia fará o cão pensar que você é um brinquedo humano!

Deste modo, estamos a ensinar ao animal a morder os braços e a saltar para cima de nós. Por outro lado, se começarmos aos gritos com o animal, isto fará com que este fique mais excitado e que ainda morda ou salte mais intensamente. Da mesma forma, quando o cão está a puxar um brinquedo e tenta saltar para cima de dono para lhe tirar o brinquedo ou quando o dono diz para largar e ele ignora o comando, então poderão surgir problemas futuros.

Mas a brincadeira não precisa sequer de envolver morder ou puxar. Se a simples acção de atirar uma bola para o cão ir buscar, for um pretexto para o cão correr “à louca”, labrar estericamete, saltar sem parar e por vezes abocanhar o dono por mera excitação, o cão irá aprender que esse comportamento impulsivo e reactivo faz com que ele consiga o que quer.

Todos os animais demasiadamente excitados podem atingir um ponto em que reagem agressivamente sem pensar. E isso acontece com as pessoas também. No futebol, por exemplo, certos acontecimentos e ambientes fazem com que alguns adeptos, com determinados precedentes, passem de um estado relativamente controlado a um estado de desordem e violência.

No caso do animal em questão, este poderá ter praticado este comportamento de sobreexcitação não só durante as suas brincadeiras mas também ao cumprimentar os donos. Além disso, o animal poderia estar limitado ao jardim ladrando excessivamente e tentando perseguir quem se aproximasse da propriedade. O seu comportamento poderia até divertir os seus donos mas quando atinge um ponto em que morde ou ataca uma pessoa ou cão, analisando friamente talvez este comportamento seja fruto de um treino inadvertido que o levou a ser agressivo.

Afinal, estes ataques não acontecem de um momento para o outro. Agora, o que se deve fazer para evitá-los?

  • Aprenda a reconhecer os sinais de medo e ansiedade dos cães.
  • Mantenha o seu cão longe de situações em que ele sinta a necessidade de se defender.
  • Ensine o seu cão a controlar os seus impulsos. Por exemplo, ensine-o a aprender a pedir “por favor” sentando-se sempre que quer algo, ao invés dele tirar impulsivamente. Isto aplica-se à comida, carícias, brinquedos, ir à rua, etc. Enquanto o cão não respeitar as regras, a recompensa não deve ser dada. Só o bom comportamento é que deve dar direito a recompensas.

Estas estratégias permitem que o seu cão pense calmamente ao invés de reagir por impulso e por vezes agressivamente. No entanto, há casos em que a ajuda de profissionais é imprescindível. 

Fonte: Huffington Post