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Foto Escândalo Instituto Royal: testes em animais em prol da ciência

A invasão ao Instituto Royal, em São Roque, polarizou ainda mais uma discussão que já é longa: até que ponto é aceitável utilizar animais em testes laboratoriais? Os activistas que participaram do resgate de 178 beagles na madrugada de sexta-feira, 18, alegam que os cães sofriam maus-tratos - foram postadas nas redes sociais fotos de um beagle morto, congelado, e outro sem um olho. 

De forma geral, as directrizes internacionais proíbem qualquer tipo de teste que envolva o sofrimento animal. Os animais só podem ser utilizados se não houver nenhum outro substituto - se for realmente necessário, o teste deve ser feito de maneira a tentar minimizar ao máximo a dor e o sofrimento.

Uma activista, que preferiu não se identificar, narrou o que viu no Instituto Royal: "Um pesadelo. Era uma cena horrível, eles estavam todos presos dentro de uma sala clara, cheio de cocó no chão. Para ter uma ideia, os nossos pés deslizavam no chão, de tanto cocó que havia no chão. Era um cheiro horrível". A empresa negou os maus-tratos e disse agir conforme a orientação da Anvisa, a agência brasileira de vigilância sanitária.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) classificou o acto como “precipitado”. Segundo Marcelo Morales, secretário da entidade, pesquisador da UFRJ e coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), a primeira denúncia contra o Instituto Royal foi feita há um ano, mas nenhuma irregularidade foi comprovada. Marcelo Morales explica que há esforços da comunidade científica internacional para que o uso de animais em testes seja diminuído, mas ele acredita que proibir completamente esse tipo de experimento pode trazer consequências graves para a ciência no País.

O jornal brasileiro Galileu conversou com o secretário:

A SBPC classificou o ato no Instituto Royal como “precipitado”. Porquê?

O Instituto Royal foi denunciado pelos próprios activistas há um ano. O instituto foi Investigado mas nehuma irregularidade foi encontrada. O procurador da cidade de São Roque estava a investigar o caso desde há um ano atrás e nenhum indício de irregularidade foi detectado. A acção dos activistas foi precipitada e está a colocar em risco a integridade dos animais utilizados em pesquisa. Eles correm risco de morrer porque não foram criados fora do ambiente de biotério.

O Instituto Royal realiza as pesquisas com base em protocolos internacionais, mas os activistas falaram em maus-tratos - há uma foto que mostra, por exemplo, um cachorro sem olho. O que dizem os padrões internacionais?

A regra é muito simples: pela lei Arouca, nenhum animal pode sofrer. Essas fotos que estão a ser colocadas na internet não são do Instituto Royal. Isso é para impressionar a população. Nós temos de ser muito correctos neste momento para saber o que está de facto a acontecer. O animal congelado morreu de morte natural e foi armazenado para que se analisasse a causa da morte. Temos de ser muito responsáveis para levantar a discussão correcta.

E qual é a discussão correcta?

É verificar se as instituições seguem os regulamentos internacionais. Se houver alguma denúncia, ela tem de ser apurada. Se houver alguma irregularidade, ela tem de ser punida. Tudo pelos meios legais. O que aconteceu foi que activistas invadiram e colocaram em risco a integridade dos animais. Dois deles foram encontrados na rua, e isso é inadmissível para os órgãos de controle. Os animais que foram resgatados estavam todos saudáveis. Não são animais de companhia.

Os institutos de pesquisa têm colaboração com entidades de proteçcão aos animais?

Sim. Todas as comissões de ética nos institutos e nas universidades têm representantes das organizações não governamentais.

Quais são os esforços da comunidade científica internacional para minimizar ou mesmo acabar com o uso de cobaias?

É o desenvolvimento de métodos alternativos, comprovados cientificamente. No Brasil e no mundo são pouquíssimos. Quando há alternativa, os animais não podem ser utilizados. Vai chegar um dia em que reduziremos muito o uso, mas por agora acabar com os testes em animais é impossível.

Há várias listas na internet com empresas que não realizam testes com animais. É possível uma empresa de cosméticos, por exemplo, ser 100% livre de testes em animais?

Sim. As empresas sérias de cosméticos fazem testes que não usam animais. Existem métodos de irritabilidade de produtos que são feitos em pele aritificial humana, comprada no exterior. O CNPq e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estão a investir em pesquisadores para fazer métodos alternativos. Foi encomendado pelo Ministério que os investigadores começassem a produzir nacionalmente essa pele artificial. Existe uma preocupação constante em relação a este tema.

O que aconteceria se o Brasil proibisse completamente testes em animais?

Nós ficaríamos completamente dependentes da ciência externa. E a produção científica da área de saúde seria totalmente prejudicada. O Brasil hoje é expoente em vários ramos: células-tronco, agricultura, e isso depende da investigação feita com animais. Para ter uma ideia, todos os lotes de vacinas, para que saiam com segurança dos locais de produção, como a Fiocruz, são testados em animais. Será que o Brasil quer colocar em risco a sua população?

Fonte: revistagalileu