Registo
Foto Canis aplicam filosofia No Kill

Em 2004, nos EUA, Nathan Winograd criou uma nova organização para lidar com os animais errantes: a No Kill Advocacy Center, que se dedica a criar comunidades em que não se matam animais. Hoje em dia, mais de 150 comunidades, em mais de 400 cidades americanas, têm canis que aplicam esta filosofia No Kill e cuja taxa de sobrevivência é de 98 %.

Reno é uma cidade americana presente em Washoe County, no Estado de Nevada. A cidade é praticamente dependente do turismo e tem sido, desde 2008, muito afectada pela crise económica. De facto, o Estado de Nevada é um dos estados com maior taxa de desemprego. Surpreendentemente, os canis deste Estado têm investimento per capita 5 vezes mais elevados que São Francisco, 3 vezes mais elevado que Los Angelos e duas vezes mais que a média nacional. Pelas convenções tradicionais, se existisse um sítio onde a eutanásia não deveria estar a ser aplicada constantemente seria em Washoe County, em Nevada – mas não é isso que acontece. As duas grandes sociedades de serviços animais – Washoe County Regional Animal Services (WCRAS) e Nevada Humane Society (NHS) – exploraram este problema e sugeriram que não tinham outra alternativa que matar os animais errantes, mesmo quando a economia estava estável. E foi exactamente o que fizeram durante anos a milhares de animais.

Imagem adaptada de YesonOreosLaw.

Desde 2007 que os líderes tanto da WCRAS como da NHS já são outros e, em apenas um ano, as adopções do canil de Reno aumentaram 80 % e o abate animal diminuiu 51 %, mesmo tendo recebido nesse ano 16.000 cães e gatos. Em 2012, a taxa de sobrevivência animal dos animais errantes atingiu os 92 %... Como é que foi possível atingir estes números?

Não foi preciso mais dinheiro, só líderes com vontade e capacidade de mudar o sistema!

Infelizmente muitos directores de canis encaram a eutanásia como a única solução, alegando que há simplesmente demasiados animais para as casas disponíveis (sobrepopulação canina) ou que os canis não têm financiamento suficiente por parte do Governo.

Um relatório do No Kill Advocacy Center refere um estudo que indica não haver qualquer relação entre o financiamento de capital para controlo animal e o número de animais salvos. Uma comunidade salvou 90 % dos animais, enquanto que outra apenas 40 % apesar desta última receber quatro vezes mais financiamento para controlo dos animais. Os estudos revelaram ainda que não existe uma tendência padrão entre a taxa de sobrevivência e os custos de financiamento. Há canis em que 87 % dos animais não são abatidos e gastam-se somente 2,8 doláres por animal e canis com 42 % de taxa de sobrevivência que gastam mais de metade!

Segundo Nathan Winograd, a diferença entre estes canis não se prende com o orçamento de cada organização, mas com o empenho dos seus líderes em implementar uma série de medidas alternativas à eutanásia. “O apoio financeiro da comunidade é essencial, mas apenas “atirar” dinheiro a um canil sem que haja liderança da parte da equipa de gestão do mesmo, não irá resolver o problema”.

Para Winograd, isto não significa que os governos devem deixar de financiar os canis. Aliás, os canis com custos por animal muito baixos têm dificuldade em estabelecer programas sustentáveis. “Estes estudos não são uma desculpa para parar de financiar os canis, no entanto, pretendem mostrar que para se ter realmente impacto na sociedade, as comunidades não têm necessariamente que investir milhões de dólares em controlo animal. O investimento em líderes que estão disposto a “abraçar” programas de utilização de recursos de forma eficiente e de produção de receitas, que tornam o No Kill possível, e ao estarem dispostos a estabelecer parcerias público-privadas, que podem salvar vidas e dinheiro, as comunidades que investem no trabalho dos canis podem reduzir a taxa de mortalidade de animais saudáveis (aproximadamente 95 % dos animais que entram) sem assaltar os cofres públicos”.

Além disso, ao passo que é necessário pessoal especializado para efectuar abates de animais, o custo para os manter pode ser drasticamente reduzido através de programas de voluntariado. Em São Francisco por exemplo, os voluntários passam cerca de 110 mil horas por ano num canil. Considerando o salário actual por hora, o mesmo trabalho custaria 1 milhão de doláres todos os anos. No entanto, os canis tradicionais que praticam eutanásia têm dificuldade em arranjar voluntários pois estes muitas vezes recusam-se a trabalhar num “matadouro”.

No Kill equation

A No Kill equation nasceu do sonho de não se eutanasiarem animais em canis e é um modelo que permite que os canis possam salvar todos os animais saudáveis ou que possam ser tratados. Ao contrário do modelo “adopção para uns e morte para os restante”, os canis com o modelo No Kill já provaram salvar até 99 % dos animais, no entanto mostrou-se ser muito complicado atingir os 100 %.

Segundo Winograd é preciso ter consciência de que, infelizmente, há alguns animais que estão muitos doentes ou aleijados para os quais já não há esperança, animais a sofrer irremediavelmente ou com comportamentos demasiado viciados com baixo prognóstico de reabilitação. Geralmente estes animais não são bons candidatos a adopção, e hoje em dia, a menos que haja um centro de acolhimento ou santuário disponível, são mortos.

Webinar com participação de Nathan Winograd e Mitch Schneider (WCRAS) – em inglês.

Segundo a filosofia No Kill é necessário ter princípios claros, implementar protocolos e estabelecer procedimentos orientados para a preservação da vida. Estes protocolos não devem ser demasiado rígidos ou inflexíveis e sempre que confrontados com a decisão de acabar com a vida de um animal esta deve ser bem ponderada e avaliada tendo em conta necessidades enquanto indivíduo único. “A decisão de acabar com a vida de um animal é muito séria e deve ser tratada como tal”, indica o director da iniciativa.

Variáveis No Kill Equation

  • Voluntários
  • Grupos de resgate
  • Famílias de acolhimento temporário
  • Programas de adopção
  • Prevenção de renúncias
  • Prevenção e reabilitação (saúde e comportamento)
  • Relações públicas ou envolvimento dentro da comunidade
  • Esterilização / castração em elevado número a baixo custo
  • Aumentar as devoluções
  • Liderança

Em Reno...

Após o canil de Reno adoptar a filosofia No Kill, o número de voluntários subiu de 30 para 7000, permitindo que se salvassem mais animais. Além disso, o número de FATs aumentou de “uma mão cheia” para quase 2500, os quais ajudaram a salvar vidas a baixo custo para o canil. Os serviços dos voluntários reduziram despesas ao mesmo tempo que aumentaram a capacidade; mais animais foram salvos e a taxa de adopção do canil aumentou.

Os programas de prevenção implementados no canil de Reno tiveram também benefícios a curto e longo prazo.

Prevenção de renúncias

Em Reno, um funcionário a tempo inteiro e os voluntários gerem o gabinete “Animal Help” para onde as pessoas que querem “ver-se livres” dos seus animais telefonam. Nessa linha de assistência dão apoio sem qualquer custo dando conselhos e indicações para como resolver os desafios que os seus animais apresentam.

Após um ano, um questionário revelou que 59 % das pessoas que estava a pensar entregar o seu cão no canil, não o fez. Isto evitou que o canil recebesse esses animais, o que permitiu poupar em custos de manutenção.

Aumentar as devoluções

Um esforço proactivo para assegurar que os animais errantes sejam reclamados pelos seus donos levou a que o canil de Reno passasse a ter uma taxa de salvação de cães vadios três vezes mais elevada que a média nacional, reduzindo os custos de manutenção, eutanásia e disposição de cadáveres. Mais de 60 % dos cães vadios são reclamados pelas suas famílias – comparando com 20 % a nível nacional e 10 % das comunidades que apresentam programas menos eficientes – pois investiu-se em esforços proactivos.

Estes esforços incluiram: ir de porta em porta à procura do dono quando os animais são resgatados da rua, reduzindo assim os custos de resgate, apreensão e, potencialmente, de morte; aplicar aos cidadãos coimas de abandono ao invés de manter os animais com ameaça de morte caso eles não tenham possibilidade de pagar as multas; carregar as fotografias e descrição completa dos animais na internet para que as pessoas possam identificar os animais entre outras.

Ao devolver milhares de animais todos os anos para os seus lares e ajudar outros milhares após eles terem sido rejeitados, os canis poupam em custos de manutenção. Para além disso, estes animais já não competem por espaço no canil ou por FATs, permitindo distribuir melhor os animais do canil.

Reduzir os nascimentos

Estudos demonstram que investir em programas de esterilização ou castração proporciona não só benefícios para a saúde pública e relações públicas mas também permite poupar em custos financeiros. Redução da entrada de animais em canis, menos animais mortos e menos denúncias de animais errantes, são consequências visíveis em comunidades que investiram em esterilizações ou castrações.

Semelhante ao que aconteceu em Reno também outros canis noutros Estados americanos implementaram a filosofia No Kill no seu funcionamento e, deste modo, emergeram novas comunidades No Kill.

Winograd acredita que todas as ferramentas, recursos, dedicação e compaixão que são necessários para estabelecer um programa No Kill em qualquer canil já existem nas comunidades americanas. Se a comunidade aproveitar essa compaixão para “abraçar” a filosofia No Kill e os programas e serviços que a tornam possível, pode salvar mais vidas. É uma situação em que todos ganham: os animais, os amantes dos animais e os contribuintes.

Conheça a história deste movimento em 12 minutos:

 

Fonte: nokilladvocacycenter, nathanwinograd