Registo

Criador é aquele que faz criação. Criação é o acto de criar. Mas nem todos os que criam, são criadores!

Muitos dizem que para fazer criação é preciso responsabilidade, experiência, tempo e dinheiro. Claro que sim! Mas acima de tudo é preciso ter “a razão” para o fazer e esta, muitas vezes, não é válida. Para começar, a maioria das razões podem ser contrapostas pelo número de cães abandonados, negligenciados ou eutanasiados anualmente.

Já existem demasiados cães e os cães não são como as pessoas – algo que muitos tendem a assumir. Não é pelo facto do seu cão ter uma ninhada que ele vai ter uma vida melhor; a felicidade do seu cão depende de si e do quanto você permita que este se envolva na sua vida.

A razão

Antes de tomar qualquer decisão precipitada, pergunte-se porque é que quer fazer criação.

Porque é que quer fazer criação?

  • Porque acredito que não consigo encontrar um cão adequado para mim em nenhuma associação.
  • Porque acredito que não consigo encontrar um cão adequado para mim em nenhum criador.
  • Porque quero ensinar mais sobre a vida aos meus filhos.
  • Porque penso que uma cadela deve ter pelo menos uma ninhada durante a sua vida.
  • Porque penso que esterilizar um animal é cruel.
  • Porque gostava de ter uma ninhada de cachorros para vender.
  • Porque o meu cão foi caríssimo e quero reaver o meu investimento.
  • Porque a raça do meu cão é muito popular; por isso é uma maneira de ganhar uns trocos com facilidade.
  • Porque deve ser tão giro ter cachorrinhos a correr pela casa toda.
  • Porque eu faço o que eu quiser com o meu cão!

Se respondeu a alguma das respostas acima de forma positiva, então NÃO faça criação!

Realmente só existe uma boa razão para fazer criação:

Primeiro porque tenho condições para ter mais cães em minha casa e está comprovado o temperamento, a saúde e a morfologia do meu cão. Depois porque ponderei bastante antes de tomar esta decisão, avaliando os prós e os contras, e  estou consciente do trabalho e da responsabilidade que acarreta ter uma ninhada. 

Tirámos-lhe as palavras da boca? Então devemos assumir que:

  1. O seu cão é de uma raça reconhecida pela entidade responsável pela Canicultura no seu País (ex. o Clube Português de Canicultura).
  2. Você tem um certificado de registo do seu cão (ex. L.O.P.) que foi fornecido pela entidade descrita em 1.
  3. Você está familiarizado e compreende o estalão oficial da raça do seu cão.
  4. O seu cão não tem faltas desqualificantes.
  5. Você exibiu o seu cão em eventos caninos.
  6. Nos eventos caninos que participou confirmou-se a qualidade do seu animal.
  7. Você está preparado para aceitar a responsabilidade pelos cachorros que cria (isto pode significar eutanasiar cachorros deformados, aceitar cachorros não desejados, lidar com doenças, fornecer os cuidados médicos necessários, registo, sociabilização ou mesmo estar disponível para receber os cães de volta, caso se verifique que o dono a quem vendeu o cachorro afinal não tem condições para ter um cão).

Criação e genética

Este guia não pretende abranger todos os aspectos de criação, mas enaltecer só os aspectos mais importantes para saciar qualquer curioso. Existe bastante literatura da área (a maior parte de língua inglesa), escrita por especialistas em genética, técnicas, ou mesmo doenças, que permite ter uma visão abrangente de todos os aspectos de criação canina.

Fazer criação é uma tarefa complexa à qual se associam os problemas de cada raça, por isso, não pense que é igual criar Chihuahuas ou Mastins Napolitanos.

Fazer criação é uma tarefa complexa à qual se associam os problemas de cada raça, por isso, não pense que é igual criar Chihuahuas ou Mastins Napolitanos. Claro que qualquer pessoa pode juntar um macho e uma fêmea e ter uma ninhada, mas neste ponto, é bom que já tenha aceitado que só existe uma boa razão para criar e está consciente e motivado para dedicar-se à futura ninhada.

Quando se manipula uma população é importante perceber como é que os genes responsáveis pelas características mais importantes se comportam dentro da população ao longo das várias gerações. Algumas características podem estar “escondidas” numa geração e serem evidenciadas noutras gerações (heterozigóticos), assim como outras se mantêm ao longo das gerações (homozigóticos). Todas as características que observamos num cão (o fenótipo) estão relacionadas com a informação que está codificada nos seus genes (o genótipo). Quando se faz criação (e em ciência em geral) as certezas só são válidas até que se prove o contrário. Ainda assim, qualquer criador deve ter na teoria mendeliana o seu mapa de criação.

Enquanto criador, ao olhar para um pedigree, deve ser capaz de analisar os cães individualmente e retirar informação sobre traços recessivos ou dominantes, as possíveis características que passarão à descendência e outras informações. É importante ter um grande espectro de todos os exemplares da raça que façam parte das linhas de sangue que pretende trabalhar.

É preciso aceitar algumas regras:

  1. Bons cães são criados a partir de bons cães.
  2. Não é possível obter determinada característica num cachorro se esta não estiver presente no código genético dos pais.
  3. Tentar corrigir um defeito de um cão cruzando-o com o seu oposto, não irá originar necessariamente um resultado médio. (ex. Cruzar um cão de focinho longo com um cão de focinho curto, não resultar necessariamente em cães de focinho médio) – biologia não é matemática.
  4. A probabilidade de criar melhores exemplares será superior se começar com cães com qualidade comprovada no seu programa de criação.
  5. Um cachorro que teve a sorte de nascer com boas características de um cruzamento com pais de pouca qualidade, é pouco provável que seja um bom reprodutor. 

Sumarizando

Compre uma boa fêmea, exiba-a em eventos da raça e coleccione opiniões sobre as suas virtudes e defeitos. Se ela provar ser um exemplar de boa qualidade, escolha um reprodutor com características igualmente boas ou melhores e cruze-a. Consideramos que, todos os cães só devem cruzar depois de completarem pelo menos 18 meses. Não só defendemos que as cadelas não devem ser sujeitas a cruzar depois dos 8 anos mas também julgamos prudente que não tenham mais do que 4 ninhadas durante a sua vida nem mais do que uma ninhada no espaço de 12 meses. Para se certificar da qualidade da sua cadela não se esqueça da importância de fazer o despiste das doenças mais comuns da raça. 

Tipos de criação

No mundo canino cria-se para se obterem resultados uniformes, ou seja, quando alguém compra um cão de uma determinada raça, esse alguém espera que o seu cachorro tenha um determinado temperamento e morfologia de acordo com o estalão da sua raça – assumindo-se, claro, uma certa variância, já que que cada cão é um exemplar único. Por outro lado, não existe o cão perfeito, cada espécie vai evoluindo de acordo com as necessidades do homem e o que era aceitável há cem anos atrás, hoje em dia pode até estar fora do estalão actual. Assim, como criador é da sua responsabilidade traçar o seu contributo para a raça e é este objectivo que deve estar empenhado em alcançar. Decerto que já estabeleceu – através de livros, exposições, provas – uma boa fundação sobre a raça e, apesar de ter visto uma série de cães que quase que se enquadram na sua definição de cão perfeito, ainda lhe falta o detalhe que você mais valoriza e que quer apurar. A sua motivação é criar esse cão!

Não existe o cão perfeito; cada espécie vai evoluindo de acordo com as necessidades do homem e o que era aceitável há cem anos atrás, hoje em dia pode até estar fora do estalão actual.

Mas como é que se consegue criar o cão "ideal"? Como discutido anteriormente é preciso ter as características genéticas desejadas em pelo menos um dos pais para aumentar a probabilidade de um cachorro possuir essa determinada característica. Por outro lado, mesmo que um ou os dois pais possuam essa característica, é impossível assegurar que ela irá passar para a sua descendência.

 

Existem vários métodos que os criadores utilizam:

Inbreeding - Linhas de sangue muito fechadas

Basicamente se os seus ancessores mostram a mesma característica através de algumas gerações, então, é possível que essa característica seja dominante nesta linha de sangue. Assim, se utilizar dois cães dessa mesma linha de sangue a probabilidade de obter cachorros que herdem essa característica é maior do que se usar um cão de outra linhagem sanguínea, que talvez exiba a mesma característica desejável mas que não é necessariamente dominante. Por isso, utilizar cães que estão mais relacionados pode ajudar a fixar certas características para futuras gerações. Cruzamentos entre irmãos e pais e filhos são exemplos de inbreeding. De facto, o tipo de relação não está estritamente definido, pois por vezes dois cachorros da mesma ninhada podem ser geneticamente muito diferentes. Este tipo de criação não é para indicado para novatos, exigindo conhecimento de muitas linhagens e não só do pedigree da mãe e do pai e, se não for bem planeado, pode resultar em defeitos graves nos cachorros. Este tipo de criação é utilizado para restabelecer características da raça desejáveis e produzir ninhadas uniformes.

Line Breeding - Linhas de sangue fechadas

A idea aqui é parecida com o inbreeding mas os cruzamentos são feitos entre cães da mesma linhagem mas que não estão tão relacionados entre si. É um dos métodos preferidos dos criadores, pois não é tão arriscado como o inbreeding e ainda assim mantém o mesmo objectivo mas a um ritmo de selecção mais lento e não se correm tantos riscos de duplicar faltas em vez de características desejáveis.

Outcrossing - Mistura de linhas de sangue

Quando se pretendem abrir linhas de sangue cruzam-se cães que não estejam relacionados. Este método origina cães com mais robustez e resistência na primeira geração – o chamado “sangue novo”. No entanto, as características interessantes desta geração são temporárias e difíceis de recuperar ao longo das próximas gerações.

Parâmetros e resultados

Como criador convém que esteja informado dos parâmetros temporais envolvidos na criação:

  • O primeiro cio começa normalmente entre os 6 e os 12 meses de idade e varia de raça para raça, sendo que os cães mais pequenas começam mais cedo e as raças de grande porte mais tarde.
  • O intervalo entre um estro (cio) e outro é de aproximadamente seis meses, mas pode variar consoante cada raça e cada exemplar.
  • As fases do ciclo estral da cadela compreendem proestro, estro, diestro e anestro.
  • O período de gestação varia entre 58 e 63 dias.
  • Os cachorros não devem abandonar a ninhada antes das 8 semanas de idade.

Se está a criar pela razão certa então deve implementar um sistema para avaliar os cachorros que cria. Mantenha sempre contacto com os futuros donos dos seus cachorros, acompanhe a sua evolução e deste modo poderá avaliar o nível da sua criação.

Criador responsável

  • Tem conhecimento e paixão pela raça.
  • Faz perguntas aos futuros donos
  • Mostra os seus exemplares
  • Realiza testes de saúde aos progenitores.
  • Participa em eventos caninos.
  • Pertence a clubes da raça.
  • Quer acompanhar o futuro do cachorro. 
  • Entrega os cachorros saudáveis e sociabilizados. 

Um criador responsável mostra conhecer profundamente a raça e estar disponível para responder pacientemente a todas as suas perguntas. Qualquer criador que adore os seus cães terá todo o gosto em partilhar as histórias dos seus animais e da respectiva raça. O principal motivo para o criador ter cães deve ser a paixão que nutre pela raça e a criação deve ser o contributo deste para garantir a qualidade, divulgação e melhoria contínua da raça.

O criador deve preocupar-se com o futuro de qualquer um dos seus cachorros. Como tal, é prática corrente de qualquer criador responsável questionar os futuros donos sobre o quanto estes se identificam com a raça e se tem condições para virem a ser bons donos.

Deve partir do criador a vontade de mostrar a beleza e carácter dos seus animais. A relação dos cães do criador para com este deve ser de amor e respeito. Para além disso, um criador dedicado sabe que não existe cão perfeito e deve estar consciente não só das qualidades como dos defeitos dos seus cães. Quando questionado sobre estes aspectos, o criador deverá ficar satisfeito pelo interesse das perguntas e deverá ser sincero.

O criador deve informar de possíveis doenças hereditárias a que a raça seja propensa e provar com testes de saúde que os progenitores são saudáveis. No acto da entrega do cachorro, deve entregar cópias de todos os exames realizados aos progenitores.

A participação em exposições de beleza ou provas de trabalho é importante na medida em que os animais são avaliados e comparados por juízes da raça. Estes eventos permitem não só qualificar o cão mas também a troca de ideias entre os amantes da raça.

Os clubes da raça devem ter como missão promover, melhorar e valorizar as respectivas raças através da realização de eventos, divulgando informação credível da raça, impondo regras de criação e unindo os diversos criadores em prol dos interesses da raça. Um criador com desejo de participar activamente na raça deverá estar inscrito no respectivo clube.

O criador deve querer acompanhar e apoiar o desenvolvimento do cachorro. Disponibilizar-se-á para o ajudar em tudo o que precisar e em troca exigirá ao dono que o informe de todos os acontecimentos importantes que venham a acontecer ao animal.

Os primeiros meses de vida são fundamentais para a sociabilização do cachorro. No entanto, devido à sua extrema debilidade não deve ser feita fora do canil. O criador só deverá entregar os cachorros a partir das 8 semanas de idade com as primeiras vacinas tomadas, desparasitados, com um plano de vacinações, o pedigree e o respectivo registo no L.O.P. ( Livro de Origens Português), cópias de títulos de beleza e trabalho e cópias de resultados de saúde dos progenitores.