Registo
Foto Adquirir dois cachorros de uma só vez?

Quando se adquire um cachorro muitas pessoas pensam em adquirir outro da mesma idade só para lhe fazer companhia. “E porque não? Os dois cachorros podem brincar um com o outro, fazer companhia um ao outro e assim evita-se a solidão e até mesmo a ansiedade por separação”. De facto parece uma boa ideia, mas na realidade está longe de o ser!

A maioria dos profissionais caninos recomenda não levar dois cachorros para casa. Para além de ser o dobro das despesas monetárias e o dobro do trabalho para treinar os cachorros, é também necessário dar especial atenção ao desenvolvimento individual dos cachorros. Está provado que dois cachorros que crescem juntos podem desenvolver uma dependência extrema um com o outro e isso faz com que um dos cachorros não atinja o seu potencial máximo.

Felizmente este tópico não é novidade e foi investigado profundamente por profissionais que têm obrigatoriamente de criar cães com comportamento apropriado: as organizações de cães-guia. Um dos principais problemas destas organizações é que é difícil encontrar pessoas que criem convenientemente os cachorros. Estas pessoas são famílias que acordam em tratar dos animais para serem cães-guia, sociabilizando-os e ensinando-lhes obediência básica. Ao contrário do que possa pensar não é uma tarefa fácil: o impacto emocional de ter que devolver os cachorros após um ano de relação é complicado.

O treinador e educador Clarence Pfaffenberger no seu livro “The New Knowledge of Dog Behavior” descreve, entre outras coisas, o seu trabalho com programa de criação e desenvolvimento dos cachorros para uma organização de cães-guia. No seu livro relata um estudo que foi levado a cabo para maximizar o uso das famílias voluntárias. Ao invés de darem um cão para a família criar, davam dois cães e assim duplicavam o número de cães com os quais a organização podia trabalhar. Os cachorros destas organizações são testados antes de serem colocados nas famílias de acolhimento e são monitorizados durante o seu crescimento e desenvolvimento. Os resultados foram surpreendentes: sempre que dois cachorros eram colocados na mesma casa, um deles desenvolvia um temperamento inapropriado para o trabalho, mesmo sendo um bom candidato antes de ir para a casa.

Clarence atribui estes resultados às interacções entre os dois cachorros. “Quando os dois cachorros são colocados na mesma casa, aprendem a confiar um no outro. Um dos cachorros torna-se sempre mais tímido, mesmo quando os dois cachorros são inicialmente confiantes e extrovertidos. Isto é um problema pois significa que o cachorro tímido nunca atinge o seu potencial máximo”. De facto, mal se concluíram estes resultados o estudo terminou e desde então as organizações de cães-guia apenas colocam um único cachorro por família, mesmo quando os voluntários têm bastante experiência.

Além do cachorro se tornar mais tímido, há ainda outros factores que influenciam o comportamento dos dois cachorros que são adoptados ao mesmo tempo. Na maior parte das vezes o cachorro mais “corajoso” revela-se o mais nervoso e indeciso quando separado do seu parceiro. Além disso, os cachorros tornam-se muitas vezes co dependentes, exibindo grande ansiedade quando separados um do outro. Geralmente não se ligam tanto à família humana como o fariam caso estivessem sozinhos e, quando atingem a maturidade sexual, podem começar a lutar um contra o outro, por vezes muito agressivamente.

Mesmo os cachorros que não sejam da mesma ninhada podem exibir este síndrome (que é conhecido como “Littermate Syndrome”) quando colocados juntos no mesmo lar. A maioria dos treinadores profissionais recomenda que após adquirir um cachorro não se adquira outros num período de, pelo menos, seis meses porque os riscos são elevados.

Se um criador o incentivar a levar dois cachorros provavelmente estará mais preocupado com o seu bolso ou então desconhece as consequências do desenvolvimento conjunto dos cachorros.

O “Littermate Syndrome” pode ser evitado? Teoricamente, sim, contudo é bastante difícil ou quase impraticável. Lembre-se que, nem as pessoas especialistas em criar cães-guia estão aptas a prevenir este problema – mas, claro, o seu grau de exigência é bastante mais elevado. No mínimo, os dois cachorros têm que ser separados e tratados individualmente, o que inclui desde passeios separados até treino individual. Além disso, os cachorros devem ter mais tempo de interacção com o dono do que um com o outro. De facto, o trabalho será duplicado e os possíveis benefícios (ex. companhia) para os quais os dois cachorros foram adquiridos terão que ser postos de parte.

Se quer ter vários cães, considere comprar ou adoptar cães adultos pois além de estarem desenvolvidos, já se conhece o seu temperamento.