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Foto Matilha de Rogil: caçador maltrata os seus cães

Apesar das infracções das instalações e maus-tratos evidentes sofridos pelos cães da Matilha de Rogil, as autoridades apenas deram "chamadas de atenção" ao proprietário e até três dos cães da matilha que foram resgatados, foram-lhe posteriormente devolvidos.

A matilha de Rogil, ou “matilha envolta” como também ficou conhecida, vivia num terreno baldio na zona de Rogil, Aljezur, e servia para negócio de aluguer de cães de caça. Ao todo eram cerca de 40 a 50 cães (incluindo cachorros) e viviam em condições deploráveis, com doenças, fome e sofrimento.

"Segundo o proprietário dos animais, os cães eram alimentados somente de segunda a quarta-feira, uma vez que tinham de estar famintos para ir à caça ao fim-de-semana e caçar ‘como deve ser’”, reporta a SOS Algarve Animals. Sem comida nem água disponível, os animais chegavam mesmo ao ponto de, na sua luta pela sobrevivência, se alimentarem dos próprios cachorros.  

Os animais permaneciam isolados no local estando presos quer em canil quer através de correntes, sem serem asseguradas quaisquer condições de limpeza. Poucas vezes eram levados à caça excepto em algumas semanas durante todo o ano.

Segundo informações da SOS Algarve Animals, que se confirmaram pelas fotos dos animais, os cuidados médicos da matilha eram inexistentes. “Ferimentos graves. Mordidas. Abcessos. Feridas. Todos infectados. Os cães estão doentes. (...) Há cães com pernas partidas, malformados ou com uma parte da pata pendurada... a cair. Membros que carecem de amputação.”, relata Laura V. McGeoch, a presidente da associação.

Em Dezembro de 2012 foram feitas as primeiras queixas às autoridades e durante os cinco meses que se seguiram não se verificaram quaisquer melhorias nas condições nem acção por parte das autoridades para penalizar o proprietário. Segundo a SOS Algarve Animals, por este ter licença de canil de caça, não há autoridade que penalize o dono ou que leve os cães dali sem o seu consentimento.

No entanto, quando a história veio a público, cinco meses após as primeiras denúncias, o proprietário transferiu os animais para locais desconhecidos, gerando tumulto nas associações de protecção animal que acompanhavam o caso.

Quatro meses mais tarde, uma fonte local que acompanhava o caso disse ao journal Algarve Resident que sete cães da matilha tinham sido encontrados em gaiolas imundas num terreno de um familiar do responsável pela matilha. A fonte relatou ainda que este cenário era quase um “dejà vu” do canil inicial.

A “gota de água” deste caso ocorreu há pouco menos de um mês quando três cães da matilha que se encontravam sob os cuidados da Associação Ecologista e Zoófila de Aljezur (AEZA) tiveram que ser devolvidos ao proprietário que os havia maltratado. “Mais uma falha dos direitos dos animais em Portugal”, diz a SOS Algarve Animals no seu website.

“Estes três cães foram recolocados pelas autoridades ao cuidado da AEZA, e deduzimos que o terão feito porque as condições continuavam a não ser as adequadas e os abusos se mantinham”, relata McGeoch.

Após um mês aos cuidados da AEZA, os cães foram entregues ao proprietário mas a porta-voz da associação da AEZA alerta para o facto dos animais não estarem de perfeita saúde. Um deles tinha uma infecção urinária, outro é suspeito de ter dirofilariose.

O journal revela ainda que o dono não pagou por qualquer tipo de tratamento ou comida desde que os animais chegaram ao abrigo da AEZA, argumentando que “a associação é de caridade”.

A forma como este caso está a ser conduzido está a abismar os apoiantes dos animais que acompanham o caso deste o final do ano passado. Os apoiantes dos animais esperam que o SEPNA e a Câmara de Aljezur se destaquem pela positiva neste caso. “Se a lei que protege e serve os seres em necessidade falhar outra vez, teremos que ser nós próprios a agir”, afirma um apoiante. “Estamos fartos de burocracia e da incapacidade das autoridades especialmente quando se tratam de situações em risco de vida. Quando alguém encontra uma criança que foi abusada, esse alguém não espera três meses para a resgatar, só porque o relatório ainda não está concluído. Os animais são também seres vivos com sentimentos, emoções e desejo de viver a vida da melhor forma possível. Por isso, devem ser tratados com cautela e respeito.”

A SOS Algarve Animals questiona as autoridades apelando à lei portuguesa de protecção dos animais que diz que um animal de companhia tem de receber do seu dono o cuidado e ser-lhe dado condições razoáveis. “São estas condições que expomos razoáveis? Estará o detentor de uma licença de canil de caça protegido pela lei de não ser responsável de torturar e deixar morrer à fome os seus 40 cães? Custa-nos entender - tão pouco aceitar -, como é possível este tratamento aos cães estar ao abrigo da lei”, escreve McGeoch na carta dirigida às autoridades.

Desde que o caso chegou a público, foi lançada uma petição online para preencher as lacunas existentes na lei portuguesa no que toca às condições em que são mantidos os cães de caça. Esta petição poderá salvar os cães de Rogil, caso eles sejam encontrados, e aplicar uma coima ao proprietário dos animais pelas suas acções.

Assinar Petição "Parem com o abuso dos cães de caça em Portugal"

Assinar Petição "Exigimos Justiça"

 

Fontes: SOS Algarve Animals, Algarve Resident