Registo
Foto Crise de valores afecta animais

Esta mensagem de consciêncialização escrita por Ivone Romeira alerta para um dos problemas mais grave da sociedade: a falta de responsabilidade que é adquirir um cão. Como a autora diz "atravessamos uma crise de valores preocupante", e quem paga são os mais frágeis da sociedade.

Se, por um lado, há quem lute pela protecção dos animais e pela defesa dos seus direitos, são muitas as pessoas que, sem qualquer sentimento, acabam por destruir ou comprometer esse trabalho.
 
Não se pode de forma alguma, deixar passar em branco frases como esta a que assistimos com regularidade, seja por falta de recursos, seja por falta de ética. Há famílias que adoptam animais, especialmente cães, “à experiência”, como se isso fosse possível ou legítimo.
 
Levam o animal para casa, criam-lhe expectativas, constroem laços afectivos e, à medida em que o bicharoco cresce, perdem-lhe o amor e, acima de tudo, o respeito. Depois, com expressões quase ingénuas, afirmam que, “só o trouxemos para casa à experiência, só para ver se ele se adaptava”. No fundo, o animal só “serviu” para distrair as crianças enquanto era pequeno e deixava fazer tudo, a ponto de não se projectar o seu futuro. Não se pensa que o animal vai crescer, vai exigir outro tipo de cuidados e, naturalmente de investimento.

Conheça a Nina aqui.

Ouvem-se lamentações do tipo, “tinha de o levar ao veterinário e, com tantas despesas, não dá”, ou “os miúdos aborrecem-se de o levar à rua e não o querem no seu quarto”. Tudo porque se continua, em muitos, muitos casos, a considerar um animal como um objecto; algo que, quando nos cansa, se deposita em qualquer lugar ou, como também é comum, se abre a porta de casa e manda sair e procurar outro destino.
 
É dura esta realidade, mas sem que se assuma e descreva as coisas tal como elas acontecem, certamente que não as podemos inverter. Nem todas as pessoas podem ou querem ter um animal nas suas casas, pelo que, o mínimo que podem fazer, é ter essa posição firme aquando são tentadas pelos desejos das crianças. 
 
Para tudo na vida se exige responsabilidade e, adoptar um animal, é um acto de responsabilidade individual e familiar, já que, o novo elemento da família, merece ser encarado e tratado como tal. Se em pequeno “é uma doçura”, como se explica que não o seja em adulto? Será que estas pessoas também gostariam de ser tratadas assim pela sua família? Só se pode depreender que sim, pois caso contrário, não transmitiam esses valores aos seus elementos.
 
E, o cúmulo da maldade humana não se esgota nestes actos, sendo também de registar casos de pessoas que cuidam carinhosamente dos animais abandonados, que reúnem condições para o fazer na sua rua, junto ás suas habitações, que se dedicam e investem tempo e dinheiro em prol dos animais que, “tiverem de seguir a sua sorte” e, por vingança de qualquer espécie, há quem se atreva a destruir esse gesto, sem que pense nas consequências, sem que consiga sentir que está errado e que, os adultos entre si é que deve, resolver os seus problemas, não através de quem não se pode defender de igual forma. 
 
Diariamente, recebemos no nosso jornal, denúncias de casos que, não podem ficar nos arquivos e, que num dia qualquer têm de chegar ao público, pois de outra forma, estaremos a alimentar e a corroborar com aquilo que lemos e a que assistimos.
 
É missão dos meios de comunicação social, despertar consciências e, de alguma forma, tentar esclarecer mais e melhor as pessoas, por isso, divulgando o que se passa, muitas vezes, em frente aos nossos olhos, acaba por contribuir para garantir que, mais pessoas estão atentas à forma selvagem com que seres humanos tratam os seus animais domésticos.
 
Se a crise económica nos preocupa, não podemos deixar de nos preocupar com aquilo que se faz em prol desse facto, já que, para além da falta de dinheiro, estamos a cultivar a falta de valores e até de humanidade que deve ser rigorosamente condenada por todos, Não nos esqueçamos de que, a forma como tratamos os nossos animais “espelha” o tratamento que damos às pessoas.

Fonte: Algarve Primeiro