Registo
Foto Leishmaniose canina

A Leishmaniose foi descrita pela primeira vez em cães em 1908, na Tunísia. Hoje em dia, a distribuição geográfica da doença vai desde a Bacia do Mediterrânio ao Médio Oriente e América Latina, com prevalências extremamente elevadas no Brasil e países do Mediterrâneo.

Os cães são considerados o reservatório mais importante de Leishmania para os humanos. A presença de cães infectados na vizinhança de humanos possibilita a infecção de mais mosquitos que podem picar humanos susceptíveis (pessoas com SIDA, imunocomprometidas, transplantados, etc).

Transmissão da infecção

A transmissão da infecção entre cães faz-se por intermédio de um insecto vector (Flebótomo) que ao alimentar-se num animal infectado picando e sugando sangue, transporta o parasita para outros animais que pica. Sugere-se também uma possível transmissão sexual.

O facto de um animal estar infectado não significa necessariamente que venha a desenvolver doença activa. Após a infecção, alguns animais controlam o desenvolvimento do parasita e não manifestam sinais de doença durante anos ou mesmo durante toda a vida. Vários estudos têm revelado que certos animais são capazes de montar uma resposta imunitária específica do tipo celular, que confere resistência à infecção. Outros, após um período de incubação variável, desenvolvem sinais de doença, apresentando uma forte resposta imunitária, com produção de anticorpos.

De facto, após exposição a um vector infectado (mosquito) com Leishmaniose, uma de três coisas pode acontecer: o animal “dribla” a infecção e permanece saudável; é infectado mas não desenvolve sintomas; ou torna-se sintomático após a infecção.

Após a inoculação do parasita na pele do cão, verifica-se uma infiltração de células de defesa no local. Uma falha no desenvolvimento de uma resposta imunitária protectora permite que os parasitas se espalhem da pele para outros órgãos como a medula, o baço, o fígado, os rins, podendo iniciar-se uma doença crónica, algumas vezes fatal.

No cão, após a infecção, decorre um período de incubação até ao aparecimento dos primeiros sintomas que pode variar entre um mês e dois anos.

Sintomas

Mais de 50% dos cães com infecção por Leishmania comprovada são portadores assintomáticos, ou seja, aparentam-se saudáveis na altura do diagnóstico; não são habitualmente levados ao veterinário, mas podem transmitir a doença e ajudam a manter a infecção, podendo ser transportados para zonas onde anteriormente não existia a doença.

O quadro sintomatológico observado é muito variável e está dependente de múltiplos factores: estado imunitário do cão, parasita e dos órgãos afectados.

Podem encontrar-se lesões em praticamente todo o organismo:

  • Lesões no tecido muscular e articulações – claudicações, enfraquecimento dos membros e um quadro de cansaço e depressão que resultam de uma atrofia muscular generalizada, caquexia, e poliartrites.
  • Lesões de pele – 60% dos animais apresentam sinais cutâneos, como alopécia e descamação, principalmente na zona peri-orbitária e membros. A pele torna-se mais espessa e rugosa. Podem aparecer úlceras cutâneas indolentes no bordo das orelhas, na zona peri-ocular e saliências ósseas. As unhas têm um crescimento excessivo.
  • Lesões nos olhos – 30% dos animais com Leishmaniose têm conjuntivites, queratites ou uveítes e 10% podem perder a visão se não acompanhados atempadamente.
  • Lesões nos rins – em 23% dos casos de Leishmaniose há invasão dos rins pelo parasita e instala-se uma resposta imunitária que leva a Insuficiência Renal que pode evoluir para a morte do animal.
  • Lesões gastrointestinais – é frequente o aparecimento de gastrite e enterite, muitas vezes com sangramentos resultantes das lesões ulcerativas no estômago e intestino.

Menos frequentemente podem surgir alterações cardíacas e respiratórias e, em alguns casos, paresias e paralisias dos membros posteriores.

Cão Leishmania-seropositivo exibindo sintomas de atrofia muscular facial, lesões de pele, perda de peso e onicogrifose. fonte: Parasites & Vectors

Diagnóstico

O diagnóstico da Leishmaniose nos estados mais avançados da doença e quando acompanhada pelos sintomas clássicos, é fácil de realizar. No entanto, em muitos casos, devido à sintomatologia polimórfica e semelhante a outras doenças, o diagnóstico pode ser desafiante.

Para além do diagnóstico baseado no exame físico do animal e nos resultados das análises sanguíneas, o diagnóstico laboratorial do parasita é imprescindível. Pode ser feito observando o parasita em esfregaços de sangue ou citologias de linfonodos ou recorrer a métodos serológicos para pesquisa de anticorpos ou detecção do DNA do parasita.

Tratamento

O tratamento desta doença não é um tema pacífico. Em primeiro lugar, um cão infectado não tem cura e, como tal, é um reservatório da doença que necessita de acompanhamento médico.

Actualmente são várias as drogas e protocolos utilizados no tratamento da Leishmaniose. A grande maioria dos cães com a doença, excepto aqueles que apresentam graves alterações hepáticas e renais, mostra uma cura clínica evidente.

É sempre necessário uma terapia sintomática juntamente com a terapêutica etiológica. Assim, e de acordo com o caso clínico, pode ser necessário recorrer a antibióticos que controlam as infecções secundárias, dietas hipoproteicas que poupam a função renal, fluidoterapia agressiva para melhorar a filtração renal e/ou hemodiálise e até transfusão de sangue quando existem anemias ou perdas de sangue graves.

Prevenção

Para nos ajudar a combater este flagelo, temos à disposição uma variedade de coleiras e spot-on repelentes de insectos, uma vacina e um xarope com eficácias comprovadas que melhoram drasticamente a resposta do animal à doença.

Aconselhe-se com o seu Médico Veterinário sobre os métodos de prevenção mais adequados para o seu animal e respectivo estilo de vida.